Negros na resistência à ditadura

Os nomes de quarenta brasileiros negros que participaram da resistência à ditadura militar são divulgados por iniciativa do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP), no catálogo "Direito à Memória e à Verdade".

Carlos Marighella, Luiz José da Cunha, o Comandante Crioulo, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, Dinalva Oliveira Teixeira (1945/74) e Helenira Resende de Souza Nazareth (1944/72), ambas também mortas na Guerilha do Araguaia, liderada pelo PC do B – são alguns dos nomes.

O resgate da participação de brasileiros negros na luta de resistência começou na II Conferência Nacional da Igualdade Racial, de junho do ano passado.

Os textos do Catálogo foram extraídos do livro-relatório “Direito à Memória e à Verdade - Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos”, editado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, em 2007, com apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).

Os casos relatados foram objeto de processo na Comissão e os familiares das vítimas indenizados pelo Estado Brasileiro. Segundo o presidente do Condepe, jornalista Ivan Seixas, ele próprio ex-preso político, a iniciativa de resgatar o papel dos negros na resistência à ditadura é importante para desmitificar a idéia de que “a resistência ao regime teve a participação apenas de brancos de classe média. Acho essa iniciativa fundamental”, afirmou.

Resistência


O Catálogo inclui o líder do Sindicato dos Ferroviários do Rio de Janeiro, José de Souza (1931/64), cuja versão oficial para a morte é de que teria cometido suicídio nove dias depois de preso e conduzido ao DOPS/RJ.

Souza teria se atirado do terceiro andar do prédio da Polícia Central do Rio, versão que foi desmentida por José Ferreira, preso político no mesmo local, que contou à Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB estadual, em 95, ter visto a chegada de Souza muito nervoso com os constantes gritos e tiros de metralhadora, e principalmente por ver presos voltarem desmaiados após depoimentos”.

Outras personagens negras lembradas no Catálogo são as guerrilheiras Dinalva Oliveira Teixeira (1945/74) e Helenira Resende de Souza Nazareth (1944/72), combatentes na Guerilha do Araguaia.

Dinalva, a Dina, virou lenda na região - se acreditava na sua capacidade de virar borboleta para despistar os militares. Professora e parteira, era exímia atiradora.

Foi a única mulher a alcançar um posto de comando.
Baiana de Castro Alves, estava grávida quando presa. O livro A Lei da Selva, de Hugo Studart, garante que ela foi executada.

“O primeiro tiro atingiu o peito, o segundo a cabeça“, diz o livro.

Helenira (1944/72) usava o codinome de Fátima e foi metralhada nas pernas, depois torturada até a morte, segundo depoimento da ex-presa política Eliza de Lima Monerat.

Comandante Crioulo

Luiz José da Cunha (1943/73) foi o último desaparecido político a ter os restos mortais identificados. Ele foi sepultado no dia 2 de setembro de 2006, no Cemitério Parque das Flores, em Recife, ao lado do túmulo da mãe, trinta e três anos depois de ser morto.

Sua ossada, sem o crânio, havia sido exumada no cemitério Dom Bosco, em Perus, em 91, onde estava enterrado como indigente. Somente em junho um exame do DNA identificou o seu corpo.

No atestado de óbito de Crioulo - dirigente da ALN e um dos primeiros a acompanhar Marighella - constava “branco” como a sua cor. Para Seixas, esse fato, que só foi corrigido pouco antes do enterro dos restos mortais, demonstra “em que medida e até que ponto foi levado o desrespeito à identidade étnica do dirigente guerrilheiro”.

Marighella

O nome mais conhecido entre os líderes negros da resistência é Carlos Marighella (1911/69), o principal líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), considerado o inimigo número um do regime militar.

Marighella foi atingido por uma bala à queima roupa na aorta, na alameda Casa Branca, em S. Paulo, a 4 de novembro de 69.

Era filho de um imigrante italiano - Carlos Augusto Marighella - e de uma negra descendente de escravos - Maria Rita do Nascimento.

Foi eleito deputado pelo PCB na Constituinte de 46 e cassado quando Dutra proibiu o partido. Marighela militou na clandestinidade até sua morte.

Em 67, rompeu com a direção do PCB e passou à resistência armada criando uma organização político-militar de nome ALN.

O último nome do Catálogo é o do operário Santo Dias da Silva (1942/79) morto pela Polícia Militar no dia 30 de outubro de 79, quando liderava piquete de greve na porta da fábrica Silvânia, no bairro paulistano de Santo Amaro.

Fonte – Afropress

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